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sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

a cada minuto uma pessoa morre
no mundo.
a cada instante, você apodrece.
constante.
o ser que surge entre seu turvo viver,
a vida que se renova e cresce dentro
de você.
corri há muito
pra longe daqui.
voltei, e nada consegue me fazer reagir.
morta porque a insolência é
tudo que sobrou
nem percebi que nesse instante
alguém se calou.
calou por dentro
e foi dentro de mim.
morreu assim, sem nem saber o que é fim
dias virados, horas à triz
vidas perfuradas, jorrando um suco sem cor
sem libido e sem matriz.
seu rosto ainda está desconfigurado pra mim
a morte é um instante que nunca tem fim.

/uma pessoa morreu dentro de mim.

domingo, 10 de novembro de 2013

Vou te falar um lugar-comum desprezível agora, lá vai: você não vai encontrar caminho nenhum fora de você. E você sabe disso. Você não vai encontrá-lo nas suas drogas, e nem na sua música (ás vezes ela só te faz vomitar suas tripas em você mesmo. E você não vai aprender a se limpar e acredite, ninguém fará isso por você). Você não vai encontrar caminho nenhum fora de você. Nem mudando para São Paulo, Campinas, Vila ou Sidney (é capaz que você só aprenda a se perder mais).
Descaminhos.
Você não vai encontrar caminho algum fora de ti.

Porém já estou fora de mim.

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Afogando-te (Hoje não é um bom dia. Amanhã pelo visto também não)


O drinque te acerta. Não fique com aquela sensação de afogamento, não desmorone.

Algumas guitarras desafinadas. Trilha sonora do desastre.
Algumas palavras demasiadamente pronunciadas. Falas de um teatro trágico.
Tento arrumar as coisas e:
- Eu não te pedi nada.
Ápice. Climax.
Um rasgo na garganta e o esguicho de sangue consegue apagar a esperança morta que havia pendurada na parede.

"O seu gosto pelo trágico faz com que tudo de bonito que você constrói, decline."

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

O sonho (restos de um fim de semana)

Blusas de cores iguais. Pedras invisíveis no caminho.
 Vocês vão cantar juntos hoje? - perguntavam para me atormentar. Perguntavam muita coisa e eu preferia sorrir e cantar. Sonhar.
O sol negro insuportável de seus olhos não me deixava em paz, em nenhum de todos esses últimos dias deixou. Escuridão do fundo desses olhos que brilha mais do que tudo. Um monte de afagos em um só peito - no meu peito. O cigarro na boca e com os pés no asfalto do cimento de um rio ele sorria. Fedia a felicidade. A sossego.
Me disse coisas no dia anterior, balbuciou pensamentos e eu sempre abria parênteses em alguma coisa. Na verdade, aconteceram várias coisas em janeiro.
 Não sei porque eu faço isso... - disse fraquinho, la no fundo do pensamento. Afinal, o resumo do dia foi: porque alguém faz qualquer coisa? É realmente a melhor resposta pra tudo.
Eu espero que quando você pense no movimento intencionado de duas pessoas ao mesmo tempo, você também pense que as vezes o movimento da intenção foi igual, mas a intensidade do pensamento não. O oxigênio não tem a intensão de ser esmagado pelos nossos pulmões e ele faz isso toda hora; não pode mudar.
Você pode mudar.
Não digo mudar o seu cabelo negro, e nem a maneira que você se veste, e abre parênteses porque eu sinto falta dessas coisas também, mas digo as coisas que te incomodam. Até o dia muda de sol pra chuva, toda hora. Todos os dias em que a chuva quer ou que o sol manda. Brigam por um espaço no céu, por um pedaço de paz.
E no fim eu penso alto toda vez que eu gosto de você bem do jeito que você é; Luto por um pedaço de paz, um pedaço teu. Um pedaço do cheiro da felicidade completa. Os cosmos juntaram todas as estrelas pra que você pudesse dar a chance, e você não deu; mas tudo bem; por que você daria? Porque alguém faz qualquer coisa? 
As melhores coisas acontecem quando chove, você mesmo disse. As melhores lágrimas caem do céu quando a vida te traz de volta à mim de algum jeito-maneira. Já perdemos a noção da hora antes, não vá embora agora. Não de mim.
Meu corpo tem estado uma bagunça com mil e cem pensamentos dançantes aqui. Por que você não dança comigo? Juntamos tudo isso e o resto acaba. Eu juro que acaba, até porque seriam quatro pés pra pisar em uma serpente só.
As pedras não são mais invisíveis, mas não são difíceis de serem retiradas do caminho. Podemos dançar, pular e cantar, afinal, as blusas eram iguais. As nossas vidas dançam enquanto o cheiro de felicidade paira sob a mesa cheia de garrafas sujas de cerveja e sob as cordas dos violões desafinados que afinam nossas vidas dançantes.
Essa foi a única vez em que os copos não caíram de cima da mesa e se espatifaram por causa de um movimento brusco. 
O vento sobra forte e nos leva longe pra dançar, não importando na verdade a direção que você queira ir. Eu não me importo a direção que você queira ir. Eu só quero dançar. Eu só quero cantar.
Eu só quero ir com você não importando, na verdade, a direção que você queira ir.

Eu não queria ter te conhecido em outra época.



Tens medo de sentir dor.
Mas a sente todos os dias.
Todos os dias te sinto, e
Me sentes pela sua dor.
Sou sua dor.
A essência dela.
Tens medo de sentir dor.

Pois então, tens medo de me sentir.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

eu estava na sua 
naquela de 
querer você 
nu
eu estava esperando 
você se convidar 
pra vir andar na 
minha 
rua 
porque certas vezes as rimas pobres 
são diamantes 
diante 
da miséria e 
hipocrisia das coisas 
instituídas 
certas feridas 
são feitas 
pra se iniciar na vida 
e eu estava na sua 
naquela de te amar sem 
culpa 
sem parecer um livro de 
auto-ajuda 
eu só queria essa sua 
alma pura 
iluminando a gruta 
escura 
em que durmo 
quando fujo da minha 
música 


domingo, 29 de setembro de 2013



Tu dizias que era cedo.
E eu dizia um pouco mais.
Eu dizia que era medo;

Mas eu não sou capaz de tratar você assim,
Mesmo tão longe de mim.

Estar perto não é físico: eu me arrisco.
Me arrisco.


quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Parte do segredo do universo:
jeito leve de dizer coisas pesadas e jeito pesado de dizer as coisas leves.
E isso dói.
Ele faz isso com naturalidade, e eu sinto dor. 
Ele me faz sentir dor.

Dor de verdade e também aquela pontada no pâncreas que faz minh'alma sangrar.
Algo enroscado na garganta como um anzol, puxando algo que não sai.
Palavras cravadas na traqueia que não saem.

Dor dos pensamentos indomáveis.

Confusão incerta.
Mas é esse tipo de coisa que me faz pensar:
será que ele sabe que ele é a maldita razão pr'eu não enfiar uma tiro no meio da minha testa? 
Coceira pedindo por vida em pele seca.
O único problema é que tudo isso não preenche minha grande presença cheia de nada. 

domingo, 28 de julho de 2013

Conservante de vida


O amor nunca bate na minha porta, nunca sorri na minha direção, nunca me chama pra tomar um café. Tentei até treinar algumas frases com as paredes. As paredes são as minhas únicas e fiéis companhias. O problema é que paredes não preenchem um coração oco, não aquecem os pés no inverno, não abraçam forte no escuro, e não bebem café. 
"Depois com o tempo descobri que o problema era o café. Porque café não tem nada a ver com o amor. Café desce rasgando e te deixa ligado. Amor não. Amor é tipo leite. Tem prazo de validade curto e azeda muito rápido. E longa vida tem conservante. Uma mentira embalada. Só parece seguro porque está numa caixinha. Depois abre igual a qualquer outro. Amor é tipo isso, derivado de leite com embalagem bonita na geladeira do mercado. Você quer muito, as vezes fica doente de vontade, mas depois que bebe vê que nem foi tudo aquilo. E sem as embalagens, no fundo, danone, queijo, manteiga... É tudo a mesma merda. Fica lá em você boiando até sumir. Teu corpo absorve o bom. E o ruim vai embora."

terça-feira, 11 de junho de 2013

Cinzas de café e de nada.


E não percebestes realmente? Andou pedindo pr'eu largar do cigarro como se fosse a coisa mais volátil do universo. E foram centenas de vezes. Milhões contando os pedidos mentalmente desejados.
Álcool e nicotina.
E há um passo disso: a morte. 
Me pedia pra ficar, sendo que era ele quem queria partir: e se foi. De mim.
E de mim se foi. E amanhã ou depois, vai-se embora dela. E ela depois, de alguém. E esse alguém, de outro alguém.
Não me amo à ponto de amar alguém, afinal. Não me amo tanto assim, à ponto de amar alguém que queira que eu a ame mais que o vício (que me consome, e que é a única coisa que não corro risco de perder). É. Não consigo me cuidar à ponto de conseguir amar.
Com o tempo, talvez. Ele sim é volátil. E quem sabe, um dia me faça amar mais lábios anciados por beijos do que os meus cigarros. Ou até mais pessoas em vez de coisas.
A incompatibilidade está nos feromônios. Ou nos olhos de quem vê. No nariz de quem sente, e na mão que apalpa.
Me encaixo perfeitamente como brinquedo de firulas pra Quem fez o mundo. E os meus problemas se encaixam em dois lugares: em mim e em uma garrafa de conhaque. 
E tudo vira um soneto de não amor. 
E tudo vira sonho de insonias infinitas. 
E fim.
E nada.
E tudo.
Vira cinza.

/E ele era tudo o que eu tinha (pra amar) e não sabia.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

We should love not fall in love, 'cause everything that falls gets broken.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Thöulart



Talvez, tu sejas apenas uma praga dos deuses.
Me degeneras. E regeneras. 
E todo dia é a mesma cousa: faz como se nada tivesse havido.
E depois some. Decepa-se de mim.
E na manhã seguinte o relógio volta vinte e três horas, e faz com que tudo aconteça outra vez. E de novo.
Um tipo doentio de felicidade diária.
Um entorpecente sem nome.
Por obséquio, as vezes, eu realmente gostaria que não existisses. 


/E depois, eu realmente gostaria que voltasses a existir para me regenerar de novo e conseguir me fazer parar com as tentativas frustradas de amnésias engarrafadas.
Depois, era só me abraçar. E me olhar como só tu olhas.

quarta-feira, 27 de março de 2013



Hoje eu me rendo.
E quem é você?
Enfiou a faca.
Cavou a vala.
Me jogou lá à dentro.

Lobo vestido de cordeiro.
Quem é você?
Você é a verdade.
Gritando mentiras.

Lobo vestido de cordeiro.
Mentindo verdades para o mundo inteiro.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Sonoridade Ilusiva


Nem nicotina, nem álcool, nem droga alguma.
Somos viciados em ilusões.
Um bando de dementes com olhos aflitos procurando comprar ilusão em qualquer esquina, qualquer ruína e pagamos com noites mal dormidas, com dor ao redor dos olhos por não conseguir chorar. Somos viciados em ilusões, somos como qualquer sobre-mesa morna e agridoce que ficou na mesa de jantar e ninguém quis tocar. Ver é mais agradável que consumir. Quando se tem na mão as coisas mudam. Somos escravos dos nossos próprios rascunhos de planos que não tem alicerce algum, degradados ao longo do tempo pelo vento e pela areia, construindo dunas e dunas pelas nossas costas sem conseguirmos espalhar ou escalar a própria montanha de ilusão [...] 

/Vargas.


quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013




E então ele me respondeu:


— Já tive sonhos, também corri atrás de muito vento. Me entregando aos mais belos devaneios cavalheirescos, que me faziam sorrir e acordar bem disposto... Mas não mais. 
Sangrei desilusões: sei como é ser abandonado pela maldita felicidade. 
Dói, e muito. O bom é que quando caímos de lugares ainda maiores, sempre retornamos. Mas nunca inteiros - parte do ser se perde no abismo e se reconfigura, trazendo algo diferente a tona.
Já não gosto mais de sonhos e nem de fazer parte de sonhos alheios, mas entendo que todos precisamos cair. Só não gosto de fazer parte disso - já atirei muitos ladeira abaixo. 
Dói pra quem cai. Dói pra quem empurra.


/ Fez com que eu quisesse me jogar diretamente prum abismo, por mim mesma. Mas não deu tempo, me empurrou e nem percebeu.


segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013




Já era final de noite e ela pensava em como as coisas são. "Pura razão...", pensava ela incessavelmente.
Dia cheio de lembranças, amigos de amores passados, dívidas sem nem trabalhar para pagar, medo de perder, e razão. O pior de tudo, é que de fato, ela já sabia.
A voz, a vida. A essência. Tudo se encontrava ali.
Descarregou suas energias que faltavam serem desperdiçadas e agarrou o mundo com a voz. Sons e agudos. Graves com suavidade. Mas isso só foi no final da noite. 
A gente fica pensando a maior parte da vida que tudo isso só tem que ir embora. A vida, os pressentimentos, os medos, eles têm que ir embora. Ela sabia, sentia isso intensamente, mas era o medo que a fazia se sentir viva.
Na noite passada beijou um qualquer. Não sabia seu nome, e ele não gostava das músicas que ela disse que escutava. Não muito alto e careca. Chegou puxando assunto, e tentando ser agradável. Nem olhos pra isso ela tinha, e ele também não a olhou nos olhos. Sentaram-se juntos por motivos maiores, e sem querer ele encostou as mãos em suas pernas grossas e inquietas. Sem jeito, sorriu, e bebeu seu conhaque. É. Não havia ficado bêbada mesmo com quase um litro de conhaque correndo em seu sangue. Ele percebeu. Ela não queria mais nada ha não ser seu bom e velho companheiro em mãos, correndo por suas tripas e alucinando-a. O álcool era tanto, que ela o seguiu. Seguiu e nem soube o porque. A cena parecia ser mais apreensiva do que parece ser (afinal, isso são só palavras). 
Eu não sei. Acho que ela se sentia meio angustiada. Era um daqueles dias com o tempo de chuva propício para se ter um amor, deitar e assistir um filme comendo pipoca com qualquer gosto idiota existente, mas, ela... Ela estava lá, em um bar, vendo uma banda de amigos (nem tão amigos assim), bebendo seu conhaque, fumando seu cigarro e querendo um motivo pra sorrir. Quem sabe?
Olhou nos olhos dele, e ele sem saber se a menina do olhar mal ia xingar ou se pediria um abraço como uma criança, ficou esperando que algo bom acontecesse. Aconteceu. Não tão bom assim, mas sim. Medo e desejo. Nunca havia sentido nada igual. Pediu desculpas pela incapacidade de falar, e andou. A mão gelada puxou-a de volta, ela olhou pros olhos dele, e ele entendeu. Não passaria daquilo. Um beijo bêbado e só. Terminaram a noite por ai.
Mas nada demais, nenhum sentimento, só o processo. Ele deve ter alguém melhor, que sinta algo há não ser medo para conseguir amá-lo. Alias,  nem sei se amar ele conseguiria. Muito menos ela.
Ela... Ah, ela! Depois de um dia (engolindo tudo o que já havia pensado sobre gostar de alguém a primeira vista), ela só conseguia pensar em plantar feijões, e o nome dele nem era João. E dessa vez nem teve o processo, ou algo assim. Só o sentimento. O medo. E o desejo. 
Logo quando ela fixou seu olhar no moço de preto, em cima do palco, tranquilo ao som de vozes ao fundo, era interrompida por uma dor de se apegar, e um apego em si própria que apertava-lhe as goelas. Por isso é que não conseguia gritar. Conhecia todas as músicas, só não conseguia cantar nenhuma. Era muita informação: o jeito como ele mexia os lábios e as mãos, o jeito como o grave de sua voz entonava em seus ouvidos, como ele virava os olhos nas partes em que a letra mais o tocava. Fora como ele olhava pra multidão sem ter um ponto fixo no olhar. Olhava pro horizonte, sabe? E ela só queria que ele olhasse pra ela. 
No fim do show, conseguiu cantar e dançou algumas melodias. Nada melhor do que uma boa música para espantar os males, como já dizia sua avó (e que saudade sentia da mesma...). Até criou coragem no final de tudo, e foi lhe perguntar o seu nome, e de fato não era João, mas tinha haver com alguns feijões. Pequenas sementes, lá dentro de seu coração sombrio e medroso. Conversaram algo como cantar juntos, mas foi ideia dela. Talvez ele suma, desapareça, e a mate um pouco mais por dentro, mate um pouco do que ainda resta nela (mas aposto que ela nem vai ligar, já que pode ser ele quem o fará).
No fim, ela foi quem foi embora. Nada de interessante naquele lugar há não ser os olhos dele, os quais ela não podia olhar toda hora. Não podia de jeito nenhum, e não sabia o porque.
A outra coisa interessante, eram os solos intensos desnecessários e completamente perturbantes ao nervoso que ela sentia. Enquanto sua euforia queria a atacar, coroe-la por dentro, os solos a acalmavam e corroíam sua mente para um vácuo num lugar magnífico. Não" Não eram erros. Eram essências, voando pelo ar até chegarem nos ouvidos das pessoas. 
Chegou bêbada em casa. Mais uma noite em que enche a cara e não se alucina. Pensa nos problemas do mesmo modo, só que com mais intensidade. Sem saída para sentir suas mãos doerem até o amanhecer, e sem saber como fazer isso acontecer. Tudo o que quer é sua cama, um abraço que demore algumas 24 horas para terminar, e uns beijos na testa, sinal de respeito, sabe? O único problema que para ter respeito, precisa-se de intimidade e amor antes disso. No caso dela, precisa mesmo. Ninguém a ama. Ela não se ama e nem tem o ponto de vista de como isso seria. Só tem o ponto da vista de um olhar de um cara que conhece há algumas poucas horas. Se pedissem pra que ela desenhassem uma flor e umas casinhas, ela não saberia. Mas sim, saberia exatamente como desenhar aqueles olhos negros e profundos.
Ah, claro. O cigarro acabou. O último deles ela deu de presente para o tal dos feijões. Pensou que talvez assim, ele conseguisse ter um pouco dela dentro dele também, ou algo parecido... Parecido com o que ela sentiu um bocado forte, sabe? 
Abraçou-o, e foi embora.
Medo, e medo.
Seria bem mais fácil se ela chegasse e simplesmente falasse, não é mesmo? Mas há medo e repulsa. 
Mas nada acontece em vão. Talvez esse dia tenha lhe mostrado alguma das razões de sua vida. Talvez a razão seja ficar amando vozes graves e solos de guitarristas psicologicamente frustrados à levar as pessoas pra outras dimensões. Na dimensão que ele vive. Onde tudo são melodias intensas que cortam os ventos e destroem frustrações alheias.
Uma das razões também pode ser acolher-se pra si própria e ficar ali, esperando que tudo se resolva com ela mesmo. Que seus pensamentos parem de brigar com seus olhos, e as cenas que 'poderiam' acontecer, simplesmente aconteçam.
Que a razão se encontre.

E que as sementes de feijões que mudam vidas se plantem. Dentro do coração de todos ao seu redor. Principalmente de quem ela vê no espelho.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

#Despojo



Uma casa velha, um sobrado antigo erguido em madeira. Cortinas amareladas que escondiam a janela quase inteira. 
Corpo tatuado, sem camisa, jogado numa poltrona em meio à sala cheia de vazio. O cheiro de mofo impregnado nas paredes descascadas e rachadas. Úmido, fétido, agradável. O cigarro dependurado nas mãos apoiado pelo polegar junto ao dedo indicador, enquanto sua outra mão segurava uma garrafa de cerveja vazia. Desajeitado, seu corpo deslizava cada vez mais em direção ao chão, seus pés descalços pálidos e molhados com uma poça causada pela goteira. 
Nada importa. Largado, vazio. Despojo.
Escutou o rangido da porta, e se arrumou na poltrona.
– Não adianta arrumar a postura só porque estou aqui. – Ela chegou dizendo, e rindo.
Ele, já bêbado, sorriu. Como já não fazia há alguns dias.
– Você pensa que é minha mãe, não é mesmo? Não se esqueça que essa casa é minha. Você só mora aqui, porque é a escolhida pra eu deitar minha cabeça nos seus seios de madrugada e te comer quando eu não estou cansado. – O que não era comum. Canseira era a sua melhor amiga. 
– E eu adoro. – Ela disse com aquele sorriso prostituto. 
Havia deixado as compras em cima de uma mesa de madeira empoeirada e cheia de formigas. Cerveja derramada, e migalhas de pão mofado que estavam em cima dali, o incomodaram. Levantou. Dor nas costas. Devia ouvir o que ela diz com mais freqüência. Arrumar a postura já não lhe parecia mais algo tão insignificante como quando ainda morava com sua velha mãe.
“Filha da puta”, pensou ele. Quem diabos compraria cinco garrafas de cerveja em pleno horário de almoço? Mas ele já não tinha noção de tempo. Estava tudo bem, desde que ainda respirasse, e lembrou que já não comia há dias também.
Ela o convidou para um banho. 
– Ainda não é sábado, baby. – Ele sussurrou no ouvido dela.
– Pare de ser um porco chato. 
Seguiu pra cozinha. Abriu a geladeira velha que ficava no canto, ao lado da mesa de formigas, e tirou um litro de leite que já estava apodrecendo. Especulou antes de falar alguma coisa, pois já não lembrara quem havia comprado e esquecido do leite ali.
Escutou os passos pelo corredor. Ele parou na porta, encostou os braços na parede rachada, observando todas as tatuagens espalhadas por aquela costa delicada de alguém tão rude.
– Você é linda. 
– E você não sabe mentir. – Enquanto falava, sentia mãos geladas em torno de sua barriga quente.  Arrepiou-se.  Beijaram-se.
Ela pediu um cigarro e começou a fazer alguma coisa para que comessem.  Ele sentado, em uma cadeira enferrujada, que fazia um barulho insuportável quando se mexia, (e aquele móvel era o mais novo da casa), lembrava da cena de sua mãe, todos os dias da sua vida já falecida em que ela cozinhava para ninguém comer. 
– Consegui um emprego. – Disse ela, com o cigarro na boca, encostada na pia, olhando pra ele e esperando a água da panela ferver.
– Não precisa. Eu te sustento com sexo.
– Você só sabe mentir pra mim. Diga uma coisa que não seja mentira.
– Você é linda, mais ainda quando esta brava. 
– Você é um idiota. Filho da puta.
– Eu sei. – Abriu uma cerveja e pensou em morrer.  Só não o fazia, por ela.  Abriu os olhos e viu que os lábios dela estavam indo na direção dos seus.
Ela andou em direção à sala, ele foi atrás. Adorava um rabo de saia. 
Ela sentiu o cheiro de mofo sendo substituído pelo cheiro do suor dele. Eles deitaram no puff velho que ficava jogado pros gatos deitarem. Abraçaram-se, e ficaram se olhando por um tempo. Os olhos dela eram bem escuros, e tinha umas sardinhas pela extensão do nariz. Ele não sabia decifrar tamanha escuridão num olhar tão simples. Mas esquecia de tudo quando se infiltrava em universo paralelo por ali. 
Esqueceram de tudo ali. 
Abraçados olhavam para o teto como se desenhos hipnóticos existissem ao longo daquela tinta mofada e velha. Viram que a água que deixará na cozinha fervendo, já virava vapor e se espalhava por toda a casa. Por incrível que pareça, adoravam estar ali, sem fazer nada, e sentindo o cheiro do mofo umedecendo.  Era só mais um dia que, bêbados, acabavam sem comer e pegando no sono olhando um para o outro. Era assim que se amavam. Amor, violência verbal, preguiça e sujeira, tudo em um mesmo buraco.
Nada importa.
Despojo.


Créditos: 

domingo, 3 de fevereiro de 2013


Ele estava me matando aos poucos. Assim como todos os outros fizeram, assim como todas as outras vezes em que sofri, e todas as palavras que já escorregaram por aqui. Dentro de mim. 
Eu morria todos os dias. 
Mas a culpada sou eu. Ele não clamou por misericórdia, e não me pediu perdão. E nem vai faze-lo. Mas a culpada sou eu. Ele não disse que era diferente de ninguém. Culpada porque deduzi sozinha.
Deduzi errado.
Quando eu quis sumir, me afastar, pra não me apegar, não me machucar (isso foi um pouco antes de começar a sentir intensamente as coisas, de verdade), eu lembro que ele até gritou. Quebrou sons e palavras dentro de mim, e me disse pra ficar e que nunca me deixaria ir. Disse que era covardia minha, e que se eu fosse, sumisse, escalpasse, eu nunca mais o veria. E eu não sumi. Eu não queria ficar sem vê lo, eu só queria não sentir nada. Olhar pra ele, falar com ele e não sentir nada. Mas desde o começo eu soube... O beijo. Aquele beijo que dei no seu rosto no dia em que nos conhecemos, não era um beijo de cumprimento, e sim de despedida. 
Eu sei que no fim, depois de vinte e três dias apenas no silêncio da base do "oi, tudo bem?", foi ele quem me deixou. Me abandonou na súbita vontade de viver com alguém que lhe completasse, e nem precisou procurar muito. Afinal, qualquer coisa completa quem não sabe o que quer. Agora ele vive sorrindo aqueles sorrisos de quem está acompanhado e tentando ser feliz, e fala pra todos que o sorriso de outra é o motivo dele pra viver. Mas pelo amor de deus! Eu acho que ele a conhece não faz nem um mês. Mas, quem sou eu pra interrogar a vida, não é mesmo? Apenas a covarde que quis fugir da situação antes mesmo que ela começasse, e no fim, não desistiu.
O único problema disso tudo, é que eu ainda me apaixono por ele todos os dias. E sei que aquele sorriso é meu.

/Não importa quantas vezes essa história vá se repetir, e nem quantos nós eu tenha que desembramar. Não importa quantas vezes eu tenha que morrer.

sábado, 26 de janeiro de 2013

É o ar viciado de seu quarto que permaneceu fechado por uma semana que veio pra te procurar. 
Não fala que atrai! Bate nessa sua boca! Não atendeu a porta por uma semana. Bicho do mato, só saía quando o homem saía de casa pra trazer o sustento. Uma vez o tempo desencontrou do relógio de parede e topou com o homem no portão. Fechou a blusa apressada dizendo que voltava logo. Subiu e desceu morro e pegou estrada de terra. Jurou amor a outro dizendo que não aguentava mais viver, que cansava esse entra e sai de ar dos pulmões, esse abrir e fechar de olhos, esse dormir e acordar todo dia. Pedia em prantos, suplicava por beijos de outra boca, boca esta que nem carecia de súplica. Seu estômago revirado de nada, se alimentava de migalhas de afeto por meses e vomitava a bile da insatisfação. 
Ela queria era nadar em prazeres dos menores ao maiores, dos da carne e do espírito. Do que era tudo isso que estava falando? Que isso? Quer algo que nem conhece? Quanto atrevimento! 
Lhe derramaram palavras, palavras, palavras, ela bebia, palavras, palavras, palavras, se afogava, palavras, palavras, palavras, deleitava, nadava, palavras, palavras, palavras, meu deus, palavras, lhe saciava a sede de uma vida inteira de descaso. Palavras. E voltava pra beira da piscina e se agarrava no silêncio do telefone:
"-Você tá aí? Não vê que isso tudo tá errado? Ei? Não chora, então só me escuta e faz o que achar melhor, mas me escuta. Você não precisa continuar com isso. Se você morrer pra salvar alguém como eu vivo? Respira devagar... Respira devagar...."

  Delancy.