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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013




E então ele me respondeu:


— Já tive sonhos, também corri atrás de muito vento. Me entregando aos mais belos devaneios cavalheirescos, que me faziam sorrir e acordar bem disposto... Mas não mais. 
Sangrei desilusões: sei como é ser abandonado pela maldita felicidade. 
Dói, e muito. O bom é que quando caímos de lugares ainda maiores, sempre retornamos. Mas nunca inteiros - parte do ser se perde no abismo e se reconfigura, trazendo algo diferente a tona.
Já não gosto mais de sonhos e nem de fazer parte de sonhos alheios, mas entendo que todos precisamos cair. Só não gosto de fazer parte disso - já atirei muitos ladeira abaixo. 
Dói pra quem cai. Dói pra quem empurra.


/ Fez com que eu quisesse me jogar diretamente prum abismo, por mim mesma. Mas não deu tempo, me empurrou e nem percebeu.


segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013




Já era final de noite e ela pensava em como as coisas são. "Pura razão...", pensava ela incessavelmente.
Dia cheio de lembranças, amigos de amores passados, dívidas sem nem trabalhar para pagar, medo de perder, e razão. O pior de tudo, é que de fato, ela já sabia.
A voz, a vida. A essência. Tudo se encontrava ali.
Descarregou suas energias que faltavam serem desperdiçadas e agarrou o mundo com a voz. Sons e agudos. Graves com suavidade. Mas isso só foi no final da noite. 
A gente fica pensando a maior parte da vida que tudo isso só tem que ir embora. A vida, os pressentimentos, os medos, eles têm que ir embora. Ela sabia, sentia isso intensamente, mas era o medo que a fazia se sentir viva.
Na noite passada beijou um qualquer. Não sabia seu nome, e ele não gostava das músicas que ela disse que escutava. Não muito alto e careca. Chegou puxando assunto, e tentando ser agradável. Nem olhos pra isso ela tinha, e ele também não a olhou nos olhos. Sentaram-se juntos por motivos maiores, e sem querer ele encostou as mãos em suas pernas grossas e inquietas. Sem jeito, sorriu, e bebeu seu conhaque. É. Não havia ficado bêbada mesmo com quase um litro de conhaque correndo em seu sangue. Ele percebeu. Ela não queria mais nada ha não ser seu bom e velho companheiro em mãos, correndo por suas tripas e alucinando-a. O álcool era tanto, que ela o seguiu. Seguiu e nem soube o porque. A cena parecia ser mais apreensiva do que parece ser (afinal, isso são só palavras). 
Eu não sei. Acho que ela se sentia meio angustiada. Era um daqueles dias com o tempo de chuva propício para se ter um amor, deitar e assistir um filme comendo pipoca com qualquer gosto idiota existente, mas, ela... Ela estava lá, em um bar, vendo uma banda de amigos (nem tão amigos assim), bebendo seu conhaque, fumando seu cigarro e querendo um motivo pra sorrir. Quem sabe?
Olhou nos olhos dele, e ele sem saber se a menina do olhar mal ia xingar ou se pediria um abraço como uma criança, ficou esperando que algo bom acontecesse. Aconteceu. Não tão bom assim, mas sim. Medo e desejo. Nunca havia sentido nada igual. Pediu desculpas pela incapacidade de falar, e andou. A mão gelada puxou-a de volta, ela olhou pros olhos dele, e ele entendeu. Não passaria daquilo. Um beijo bêbado e só. Terminaram a noite por ai.
Mas nada demais, nenhum sentimento, só o processo. Ele deve ter alguém melhor, que sinta algo há não ser medo para conseguir amá-lo. Alias,  nem sei se amar ele conseguiria. Muito menos ela.
Ela... Ah, ela! Depois de um dia (engolindo tudo o que já havia pensado sobre gostar de alguém a primeira vista), ela só conseguia pensar em plantar feijões, e o nome dele nem era João. E dessa vez nem teve o processo, ou algo assim. Só o sentimento. O medo. E o desejo. 
Logo quando ela fixou seu olhar no moço de preto, em cima do palco, tranquilo ao som de vozes ao fundo, era interrompida por uma dor de se apegar, e um apego em si própria que apertava-lhe as goelas. Por isso é que não conseguia gritar. Conhecia todas as músicas, só não conseguia cantar nenhuma. Era muita informação: o jeito como ele mexia os lábios e as mãos, o jeito como o grave de sua voz entonava em seus ouvidos, como ele virava os olhos nas partes em que a letra mais o tocava. Fora como ele olhava pra multidão sem ter um ponto fixo no olhar. Olhava pro horizonte, sabe? E ela só queria que ele olhasse pra ela. 
No fim do show, conseguiu cantar e dançou algumas melodias. Nada melhor do que uma boa música para espantar os males, como já dizia sua avó (e que saudade sentia da mesma...). Até criou coragem no final de tudo, e foi lhe perguntar o seu nome, e de fato não era João, mas tinha haver com alguns feijões. Pequenas sementes, lá dentro de seu coração sombrio e medroso. Conversaram algo como cantar juntos, mas foi ideia dela. Talvez ele suma, desapareça, e a mate um pouco mais por dentro, mate um pouco do que ainda resta nela (mas aposto que ela nem vai ligar, já que pode ser ele quem o fará).
No fim, ela foi quem foi embora. Nada de interessante naquele lugar há não ser os olhos dele, os quais ela não podia olhar toda hora. Não podia de jeito nenhum, e não sabia o porque.
A outra coisa interessante, eram os solos intensos desnecessários e completamente perturbantes ao nervoso que ela sentia. Enquanto sua euforia queria a atacar, coroe-la por dentro, os solos a acalmavam e corroíam sua mente para um vácuo num lugar magnífico. Não" Não eram erros. Eram essências, voando pelo ar até chegarem nos ouvidos das pessoas. 
Chegou bêbada em casa. Mais uma noite em que enche a cara e não se alucina. Pensa nos problemas do mesmo modo, só que com mais intensidade. Sem saída para sentir suas mãos doerem até o amanhecer, e sem saber como fazer isso acontecer. Tudo o que quer é sua cama, um abraço que demore algumas 24 horas para terminar, e uns beijos na testa, sinal de respeito, sabe? O único problema que para ter respeito, precisa-se de intimidade e amor antes disso. No caso dela, precisa mesmo. Ninguém a ama. Ela não se ama e nem tem o ponto de vista de como isso seria. Só tem o ponto da vista de um olhar de um cara que conhece há algumas poucas horas. Se pedissem pra que ela desenhassem uma flor e umas casinhas, ela não saberia. Mas sim, saberia exatamente como desenhar aqueles olhos negros e profundos.
Ah, claro. O cigarro acabou. O último deles ela deu de presente para o tal dos feijões. Pensou que talvez assim, ele conseguisse ter um pouco dela dentro dele também, ou algo parecido... Parecido com o que ela sentiu um bocado forte, sabe? 
Abraçou-o, e foi embora.
Medo, e medo.
Seria bem mais fácil se ela chegasse e simplesmente falasse, não é mesmo? Mas há medo e repulsa. 
Mas nada acontece em vão. Talvez esse dia tenha lhe mostrado alguma das razões de sua vida. Talvez a razão seja ficar amando vozes graves e solos de guitarristas psicologicamente frustrados à levar as pessoas pra outras dimensões. Na dimensão que ele vive. Onde tudo são melodias intensas que cortam os ventos e destroem frustrações alheias.
Uma das razões também pode ser acolher-se pra si própria e ficar ali, esperando que tudo se resolva com ela mesmo. Que seus pensamentos parem de brigar com seus olhos, e as cenas que 'poderiam' acontecer, simplesmente aconteçam.
Que a razão se encontre.

E que as sementes de feijões que mudam vidas se plantem. Dentro do coração de todos ao seu redor. Principalmente de quem ela vê no espelho.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

#Despojo



Uma casa velha, um sobrado antigo erguido em madeira. Cortinas amareladas que escondiam a janela quase inteira. 
Corpo tatuado, sem camisa, jogado numa poltrona em meio à sala cheia de vazio. O cheiro de mofo impregnado nas paredes descascadas e rachadas. Úmido, fétido, agradável. O cigarro dependurado nas mãos apoiado pelo polegar junto ao dedo indicador, enquanto sua outra mão segurava uma garrafa de cerveja vazia. Desajeitado, seu corpo deslizava cada vez mais em direção ao chão, seus pés descalços pálidos e molhados com uma poça causada pela goteira. 
Nada importa. Largado, vazio. Despojo.
Escutou o rangido da porta, e se arrumou na poltrona.
– Não adianta arrumar a postura só porque estou aqui. – Ela chegou dizendo, e rindo.
Ele, já bêbado, sorriu. Como já não fazia há alguns dias.
– Você pensa que é minha mãe, não é mesmo? Não se esqueça que essa casa é minha. Você só mora aqui, porque é a escolhida pra eu deitar minha cabeça nos seus seios de madrugada e te comer quando eu não estou cansado. – O que não era comum. Canseira era a sua melhor amiga. 
– E eu adoro. – Ela disse com aquele sorriso prostituto. 
Havia deixado as compras em cima de uma mesa de madeira empoeirada e cheia de formigas. Cerveja derramada, e migalhas de pão mofado que estavam em cima dali, o incomodaram. Levantou. Dor nas costas. Devia ouvir o que ela diz com mais freqüência. Arrumar a postura já não lhe parecia mais algo tão insignificante como quando ainda morava com sua velha mãe.
“Filha da puta”, pensou ele. Quem diabos compraria cinco garrafas de cerveja em pleno horário de almoço? Mas ele já não tinha noção de tempo. Estava tudo bem, desde que ainda respirasse, e lembrou que já não comia há dias também.
Ela o convidou para um banho. 
– Ainda não é sábado, baby. – Ele sussurrou no ouvido dela.
– Pare de ser um porco chato. 
Seguiu pra cozinha. Abriu a geladeira velha que ficava no canto, ao lado da mesa de formigas, e tirou um litro de leite que já estava apodrecendo. Especulou antes de falar alguma coisa, pois já não lembrara quem havia comprado e esquecido do leite ali.
Escutou os passos pelo corredor. Ele parou na porta, encostou os braços na parede rachada, observando todas as tatuagens espalhadas por aquela costa delicada de alguém tão rude.
– Você é linda. 
– E você não sabe mentir. – Enquanto falava, sentia mãos geladas em torno de sua barriga quente.  Arrepiou-se.  Beijaram-se.
Ela pediu um cigarro e começou a fazer alguma coisa para que comessem.  Ele sentado, em uma cadeira enferrujada, que fazia um barulho insuportável quando se mexia, (e aquele móvel era o mais novo da casa), lembrava da cena de sua mãe, todos os dias da sua vida já falecida em que ela cozinhava para ninguém comer. 
– Consegui um emprego. – Disse ela, com o cigarro na boca, encostada na pia, olhando pra ele e esperando a água da panela ferver.
– Não precisa. Eu te sustento com sexo.
– Você só sabe mentir pra mim. Diga uma coisa que não seja mentira.
– Você é linda, mais ainda quando esta brava. 
– Você é um idiota. Filho da puta.
– Eu sei. – Abriu uma cerveja e pensou em morrer.  Só não o fazia, por ela.  Abriu os olhos e viu que os lábios dela estavam indo na direção dos seus.
Ela andou em direção à sala, ele foi atrás. Adorava um rabo de saia. 
Ela sentiu o cheiro de mofo sendo substituído pelo cheiro do suor dele. Eles deitaram no puff velho que ficava jogado pros gatos deitarem. Abraçaram-se, e ficaram se olhando por um tempo. Os olhos dela eram bem escuros, e tinha umas sardinhas pela extensão do nariz. Ele não sabia decifrar tamanha escuridão num olhar tão simples. Mas esquecia de tudo quando se infiltrava em universo paralelo por ali. 
Esqueceram de tudo ali. 
Abraçados olhavam para o teto como se desenhos hipnóticos existissem ao longo daquela tinta mofada e velha. Viram que a água que deixará na cozinha fervendo, já virava vapor e se espalhava por toda a casa. Por incrível que pareça, adoravam estar ali, sem fazer nada, e sentindo o cheiro do mofo umedecendo.  Era só mais um dia que, bêbados, acabavam sem comer e pegando no sono olhando um para o outro. Era assim que se amavam. Amor, violência verbal, preguiça e sujeira, tudo em um mesmo buraco.
Nada importa.
Despojo.


Créditos: 

domingo, 3 de fevereiro de 2013


Ele estava me matando aos poucos. Assim como todos os outros fizeram, assim como todas as outras vezes em que sofri, e todas as palavras que já escorregaram por aqui. Dentro de mim. 
Eu morria todos os dias. 
Mas a culpada sou eu. Ele não clamou por misericórdia, e não me pediu perdão. E nem vai faze-lo. Mas a culpada sou eu. Ele não disse que era diferente de ninguém. Culpada porque deduzi sozinha.
Deduzi errado.
Quando eu quis sumir, me afastar, pra não me apegar, não me machucar (isso foi um pouco antes de começar a sentir intensamente as coisas, de verdade), eu lembro que ele até gritou. Quebrou sons e palavras dentro de mim, e me disse pra ficar e que nunca me deixaria ir. Disse que era covardia minha, e que se eu fosse, sumisse, escalpasse, eu nunca mais o veria. E eu não sumi. Eu não queria ficar sem vê lo, eu só queria não sentir nada. Olhar pra ele, falar com ele e não sentir nada. Mas desde o começo eu soube... O beijo. Aquele beijo que dei no seu rosto no dia em que nos conhecemos, não era um beijo de cumprimento, e sim de despedida. 
Eu sei que no fim, depois de vinte e três dias apenas no silêncio da base do "oi, tudo bem?", foi ele quem me deixou. Me abandonou na súbita vontade de viver com alguém que lhe completasse, e nem precisou procurar muito. Afinal, qualquer coisa completa quem não sabe o que quer. Agora ele vive sorrindo aqueles sorrisos de quem está acompanhado e tentando ser feliz, e fala pra todos que o sorriso de outra é o motivo dele pra viver. Mas pelo amor de deus! Eu acho que ele a conhece não faz nem um mês. Mas, quem sou eu pra interrogar a vida, não é mesmo? Apenas a covarde que quis fugir da situação antes mesmo que ela começasse, e no fim, não desistiu.
O único problema disso tudo, é que eu ainda me apaixono por ele todos os dias. E sei que aquele sorriso é meu.

/Não importa quantas vezes essa história vá se repetir, e nem quantos nós eu tenha que desembramar. Não importa quantas vezes eu tenha que morrer.